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sexta-feira, 16 de março de 2012

DOUTRINA DO BATISMO NA DECLARAÇÃO DE SAVOY, ROBERT KALLEY VOTARIA CONTRA OU A FAVOR?

Por Joelson Gomes

Quem lê a Declaração de Savoy no capítulo 29 vai ver no seu parágrafo 4° que os congregacionais ingleses eram pedobatistas. Claro que na própria declaração, esse fato já é contraditório porque no parágrafo 1° está escrito que o batismo foi ordenado por Jesus Cristo “para servir ao batizando de sinal e selo do pacto da graça, de seu enxerto em Cristo, de sua regeneração, da remissão de pecados e de sua total entrega a Deus através de Jesus Crito para andar em novidade de vida”. Ora, não sei como os doutores de Savoy entendiam como tudo isso pode acontecer numa criança inconsciente. Mas, ninguém é perfeito.

Quando a declaração de Savoy foi composta em 1658, é dito que todos os seus artigos foram discutidos e para que fossem aceitos tinham que ser votados na assembleia.[1] Se Robert Reid Kalley o fundador do Congregacionalismo brasileiro estivesse presente, ele votaria a favor ou contra o batismo infantil? Esta pergunta é válida por dois motivos:

a) Alguns dizem por desconhecimento não saber a posição do Dr. Kalley sobre o assunto, e que ele não deixou nada escrito sobre o caso. Seria ele pedobatista, já que sua origem é uma igreja pedobatista (o Dr. Kalley é oriundo da igreja Presbiteriana escocesa sendo batizado, quando criança, nesta tradição)?

b) Dentro da Aliança Congregacional alguns pastores pelo o uso indiscriminado da Teologia Sistemática de Louis Berkof terminam entendendo que o pedobatismo é bíblico e até confundem ser reformado com ser pedobatista. O que Kalley pensava? Qual seria o seu voto?

O Dr. Kalley embora no início do ministério tenha aceito o batismo praticado por sua igreja de origem, depois da maturidade logo o rejeitou. Ele declarou sobre o batismo de criançinhas: “Estou bastante satisfeito que crianças sejam batizadas, mas apenas crianças que professam solenemente a Cristo e vivem vidas de acordo com o Evangelho.[2] E falando dos pré-requisitos para alguém ser batizado, ele disse: 

Quanto ao batismo de crianças, a Bíblia guarda silêncio a respeito. A circuncisão era um rito limitado aos machos, no oitavo dia de nascimento, e era aplicada pelo pai, pela parteira ou por qualquer outra pessoa habilitada. Assim – Abraão aplicou-a em Isaque (Gn 21. 3 e 4); a mulher de Moisés, Séfora, em seu filho (Êx. 4. 25); Paulo em Timóteo (At. 16. 1-3). As condições essenciais para o batismo eram duas: a) entender claramente a mensagem e b) de coração aberto aceitá-la. Fé em exercício e alegria inteligente eram os pré-requisitos deste rito cristão – totalmente nulos aos recém-nascidos.[3]

Se parassemos aqui já poderíamos ter ideia como seria o voto de Kalley. Mas, vamos adiante. 

A Igreja Congregacional Fluminense, primeira Igreja protestante do Brasil e fundada e doutrinada por Kalley, exigia que quem tivesse sido batizado quando criança, para ingressar nela fosse rebatizado. Como no caso da senhora Cristina Fernandes Braga. William Bannister Forsyth escreve:

Dona Cristina Fernandes Braga, esposa de José Luiz Fernandes Braga, tinha expressado já há muito o desejo de tornar-se membro da Igreja Evangélica Fluminense, mas tinha sido impedida por causa da decisão da Igreja, que exigia que fosse submetida ao batismo cristão, por aspersão. Dona Cristina era de origem germânica e frequentara a classe da Sra. Kalley na Escola Dominical em Petrópolis, quando moça. Tinha sido batizada na infância por um ministro luterano. Convertida graças ao casal Kalley, ela recusava ser rebatizada, por entender que o seu batismo infantil havia sido um autêntico bastismo. Finalmente ela cedeu e aceitou o rebatismo e foi assim também, admitida à Mesa do Senhor.[4]

Falando à Igreja Congregacional Pernambucana, também fundada por ele, Kalley diz: 

A Igreja Evangélica Pernambucana não pertence a nenhuma denominação estrangeira: não é presbiteriana, porque esta considera válido o batismo romano e pratica o batismo de crianças; aproxima-se mais da denominação batista.[5]

Quando entendeu que a Igreja Evangélica Fluminense precisava de um pastor brasileiro, o Dr. Kalley mandou estudar no colégio de Spurgeon o jovem João Manoel Gonçalves dos Santos, e o candidato de Kalley não era pedobatista. O Doutor chegou a dizer ao seu amigo que este candidato seria, quem sabe, o único antipedobatista do império na época.[6] É sabido que O assunto batismo infantil não era novo em sua vida, pois logo cedo, em sua família, o tema foi abordado quando sua primeira esposa, Margareth, pediu para ser rebatizada porque estava convencida que seu batismo, quando criança, não tinha base no Novo Testamento. Diante disso, o Dr. Kalley prontamente lhe rebatizou.[7]

O filho adotivo de Kalley, João Gomes da Rocha, respondendo a uma carta sobre como o seu pai entendia o batismo, escreve:

Porque sabemos qual foi o ensino do Dr. Kalley durante todo o seu pastorado nas igrejas evangélicas que fundara no Brasil acerca da forma de batismo de água aplicado à cabeça dos crentes adultos, depois de fazerem uma confissão pública perante a igreja de sua plena fé no Salvador Jesus.[8]

Antes de partir de vez do Brasil o Dr. Kalley deixou uma confissão de fé para as igrejas que aqui fundou: os 28 artigos da Breve Exposição, declaração aceita como síntese de fé pela Aliança Congregacional. No artigo 25, que trata do batismo, ele escreve:

O batismo com água foi ordenado por nosso Senhor Jesus Cristo como figura do batismo verdadeiro e eficaz, feito pelo salvador, quando envia o Espírito para regenerar o pecador (Mt. 3. 11; 1Co. 12. 13). Pela recepção do batismo com água, a pessoa declara que aceita os termos do pacto em que Deus assegura aos crentes as bênçãos da salvação (At. 2. 41; 8. 12).

Pela leitura do artigo fica claro: o batismo com água só deve ser ministrado para quem dá mostras de que é convertido, porque no entendimento de Kalley a ordenança do bastimo é apenas um símbolo, uma figura do batismo verdadeiro, com o Espírito Santo que supõe-se já aconteceu no batizando no momento da regenração; por isso agora, o batizando está recebendo o sinal, o selo, de algo que já supõe-se, aconteceu com ele (senão não seria nem sinal, nem selo). Assim na ordem de Kalley as coisas acontecem assim: regeneração e depois, batismo com água. E ainda ele diz no artigo citado que ao receber este símbolo a pessoa batizada declara que aceita conscientemente os termos, as leis, do pacto de Deus. Logo, no entendimento do Doutor o batismo só pode ser um ato consciente. Ele escreve:

O batismo com água não é essencial para a salvação; sua aplicação externa é um mero testemunho público, diante de testemunhas, de que se aprova uma aliança (ordenança) que tipifica a purificação, o refrigério, o conforto e o poder fortificante do Espírito Santo.[9]

É sabido que o Dr. Kalley foi batizado quando criança na sua igreja de origem na Escócia mas nunca se conformou com isso, tanto que antes de morrer pediu ao seu amigo, o pastor Fanstone que o batizasse, agora sim, como crente. James, filho do pastor Fanstone, diz que realmente seu pai batizou o Dr. Kalley a pedido dele que quis ser batizado como crente confesso.[10]

Por tudo isso acho que agora podemos dizer que se estivesse na assembleia que aprovou a Declaração de Savoy o Dr. Kalley votaria contra na seção batismo infantil.


NOTAS

[1] Conforme TOON, Peter. Puritans and Calvinism. Disponível em: Acesso em 07/08/2008
[2] FORSYTH, William B. Jornada no Império (São Paulo: Fiel, 2006), p. 225.
[3] ROCHA, João Gomes da. Lembranças do Passado (Rio de Janeiro, 1953), v.2, p.37. FORSYTH, William B. Op. Cit. p. 225.
[4] FORSYTH, William B. Op. Cit. Pp. 195, 196
[5] ROCHA, João Gomes da. Op. Cit. v. IV. Pp. 250, 251.
[6] EVERY-CLAYTON, Joyce E. W. Um Discurso Missionário  no Segundo Império (tese de doutorado), p. 176.
[7] FORSYTH, William B. Op. Cit. p. 94.
[8] Explicação em carta do Dr. João Gomes da Rocha, filho adotivo do casal Kalley, ao Senhor Abílio Augusto Biato que lhe escreveu pedindo eclarecimentos sobre o assunto. A carta se encontra no arquivo da Igreja Evangélica Fluminense e é citada por CARREIRO, Vanderli Lima. Aspersão (Rio de Janeiro: UNIGEVAN, 2005), p. 44.
[9] ROCHA, João Gomes da. Op. Cit., v.2, p.20, 21.
[10] CARREIRO, Vanderli Lima. Op. Cit. p. 45.

Um comentário:

Caline disse...

Com certeza, ele votaria contra.

* CONGREGACIONALISMO, O QUE É ISSO?

Congregacionalismo é a forma de governo de Igreja em a autoridade repousa sobre a independência e a autonomia de cada Igreja local. Este tem sido declarado como o sistema primitivo que representa a forma mais antiga de governo da Igreja. O Congregacionalismo moderno, no entanto, data a partir da Reforma Protestante.

Já em 1550, há indícios de homens e mulheres se reunindo para pregar a Palavra de Deus e administrar os sacramentos como separados da Igreja nacional da Inglaterra (Anglicana).

Quando ficou claro que a rainha Elizabeth I não tinha a intenção de uma reforma radical da Igreja inglesa, o número dessas comunidades separadas aumentou.

Robert Browne, o primeiro teórico do sistema, insistia em que estas «igrejas separadas", deviam ser independente do Estado e ter o direito de governarem-se a si próprias, estabelecendo assim as linhas essenciais do Congregacionalismo como o conhecemos hoje.

Desde o 1580 os Brownistas (como passaram a ser chamados estes dissidentes) aumentaram em número e os contornos do congregacionalismo tornaram-se mais claramente definidos; igrejas foram formadas em Norwich, Londres, Scrooby e Gainsborough.

O movimento foi impulsionado pela perseguição. Alguns destes separatistas migraram para a Holanda (1607) e depois (1620) para os Estados Unidos da América, onde o Congregacionalismo foi influente na formação tanto da religião quanto da política daquele país.

Na Inglaterra os Independentes (como também eram chamados) formaram a espinha dorsal do exército de Oliver Cromwell. Seus teólogos defenderam a sua posição congregacionalista na Assembléia de Westiminster e os seus princípios foram reafirmados na Declaração Savoy de Fé e Ordem, em 1658.

Mesmo sendo autônomas esta independência das igrejas Congregacionais não as coloca em completo isolamento. Elas reconheceram o vínculo de uma fé comum e de uma ordem e formaram Associações locais de apoio mútuo e estreitamento de relações.

A União Congregacional da Escócia foi formado em 1812; a da Inglaterra e País de Gales em 1832.

Estas uniões não tinham qualquer autoridade legislativa, mas serviram para aconselhar as igrejas e exprimir as suas idéias em comum.

Em 1972 a maior parte das Igrejas Congregacionais na Inglaterra e no País de Gales se uniu com a Igreja Presbiteriana da Inglaterra para formar a Igreja Reformada Unida. Muitas igrejas que não concordaram com esta união formam hoje a Federação Congregacional e a Comunhão de Igrejas Evangélicas Independentes.

Nos E.U.A. na maior parte das Igrejas Cristãs Congregacionais, em 1957 ingressou com a Igreja Evangélica Reformada em uma união para formar a Igreja Unida de Cristo. As igrejas que não concordaram com esta união formaram outras associações até hoje existentes, com destaque para a Associação Nacional de Igrejas Cristãs Congregacionais e para a Conferência Cristã Conservadora Congregacional.

Adpt. Joelson Gomes

The Concise Oxford Dictionary of the Christian Church 2000, originalmente publicado por Oxford University Press, 2000.

* OS PRIMEIROS CONGREGACIONALISTAS

A maneira Congregacional de igreja na Inglaterra provavelmente tenha seu nascimento em 1567,[1] num pequeno grupo de cerca de cem irmãos que insatisfeitos com tudo o que estava acontecendo dentro da igreja inglesa, começou a se reunir para adorar secretamente no “Salão Plumbers”, Londres. Eles eram chamados de “a Igreja de Privye”,[2] (ou Igreja Privada) transformando-se esta na primeira das muitas congregações separatistas de protesto na Inglaterra. O ajuntamento foi considerado ilegal pelas autoridades, e em 19 de Junho de 1567, e segundo o proeminente historiador Congregacional Williston Walker, os seus membros foram presos, açoitados em público ou mortos.[3] Este dia é considerado por muitos historiadores como o dia da origem moderna da maneira Congregacional de ser igreja.[4] A congregação do Salão Plumbers foi assim dispersa, mas foi logo reorganizada, e agora com mais clareza de sua finalidade. Os seus membros fizeram um pacto entre si para adoração a Deus de acordo com sua compreensão puritana. Mas, mais uma vez foram descobertos, diversos membros foram novamente presos, e outros junto com seu pastor Richard Fitz foram mortos. Mas, a chama não se apagou e a história da Igreja Congregacional é longa, rica, linda e inspiradora.
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NOTAS

[1] CAIRNS, Earle E. O Cristianismo Através dos Séculos (São Paulo: Vida Nova, 2006) p. 275.

[2] Conforme “The Reformation in England” em <http://www.ucc.org/about-us/short-course/the-reformation-in-england.html> Acesso em 08/07/07.

[3] História da Igreja Cristã, 2a ed. (São Paulo: JUERP/ ASTE, 1980), p. 547. Conforme também <http://www.usgennet.org/usa/topic/colonial/religion/history.html> Acesso 08/12/07.

[4] Conforme <http://chi.gospelcom.net/DAILYF/2002/06/daily-06-19-2002.shtml> Acesso em 08/12/07.

ACESSE TAMBÉM