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sexta-feira, 23 de agosto de 2019

DR. WILLIAM AMES VIDA E OBRA - GRANDES NOMES CONGREGACIONAIS


Aquele profundo, aquele sublime, aquele habilidoso, aquele irrefutável – sim, aquele divino doutor” (Cotton Mather sobre William Ames). [1] [2]

 
O Dr. William Ames nasceu em 1567, em Ipswich, Suffolk, Inglaterra, região onde o puritanismo teve seus começos e a perseguição era menos feroz. Quando seus pais morreram, ele foi levado pelo tio Robert Snelling que se responsabilizou por sua educação. Diplomou-se em Cambridge, em 1607, e foi depois convidado a ser professor do Christ’s College. Quando estava para assumir, autoridades do Estado e a Igreja Anglicana interferiram por causa de suas convicções “não conformistas” (pessoas que não concordavam com as leis da Igreja Anglicana). O fato era que Ames se recusava a usar as vestes litúrgicas prescritas pelo clero, falava contra o sinal da cruz e outras cerimônias.
A perseguição se intensificou no reinado de Tiago I (James), e Ames que havia traduzido um tratado de William Bradshaw, no qual estavam estabelecidas, em termos claros, as convicções não conformistas, decidiu ir para a Holanda em busca de liberdade.
Chegou em 1610 e trabalhou em várias comunidades de ingleses refugiados. Conheceu John Robinson líder dos Separatistas congregacionais em Leiden, e tentou dissuadi-lo de seu separatismo radical.[1] Teve uma vida precária até ser nomeado para ensinar na Universidade de Franeker. Mesmo com as autoridades inglesas interferindo, ele conseguiu tomar posse passando onze anos ali. Seu aluno mais notável foi Johannes Cocceius, autor que mais tarde deu forma a Teologia da Aliança.
Mesmo tendo muitas dificuldades na vida pessoal, sua voz foi uma das mais influentes no desenvolvimento do movimento puritano e das igrejas protestantes na Holanda e na Inglaterra. A discussão contra o Arminianismo estava no centro de seu trabalho e ele foi o principal conselheiro do presidente do Sínodo de Dort na luta contra os arminianos (1618-19).
No final de 1620, decidiu que deveria deixar a universidade e ir para a América do Norte, pois teria recebido correspondência de seus amigos congregacionais ali, convidando-o para se juntar a eles e trabalhar como pastor ou professor.
Mas Ames nunca pôde embarcar para América. Ao invés disso, acabou ficando em Roterdã para, em 1632, atender um chamado para se o copastor de seu amigo Hugh Peters,[2] numa igreja congregacional de língua inglesa em Roterdã. A igreja planejava abrir uma escola, tendo Ames como seu líder.
O projeto era de...

...uma congregação independente, centrada na aliança e determinada a ter um rol de membros composto de crentes que confessavam e verdadeiramente praticavam a sua fé. Fazia muito tempo que, dentro e fora de círculos puritanos, Ames vinha defendendo esses princípios congregacionalistas.[3]

Porém, em 1633 o rio Maas inundou as casas dos membros da igreja, inclusive a de Ames. Ele foi exposto à água e ar gelados contraindo uma febre tão alta que seu coração enfraquecido não pôde suportar. A medicina e os médicos de nada serviram.
Ames teve uma influência tão profunda sobre a teologia dos Congregacionais americanos que foi mais citado por eles que Lutero e Calvino juntos. Increase Mather chegou a dizer que ele deu um congregacionalismo perfeito.[4] Seu livro A essência da sagrada teologia (The marrow of sacred divinity) foi considerado o melhor resumo já escrito sobre a teologia calvinista. Era leitura obrigatória em Yale Harvard,[5] aliás, foram seus livros, levados por sua segunda esposa, que formaram o núcleo da biblioteca desta recém-formada universidade (Harvard). “Thomas Hooker (1586-1647) e Increase Mather (1639-1723) recomendaram The marrow of sacred divinity, dizendo que, com exceção da Bíblia, era o livro mais importante para quem desejasse se tornar teólogo com boa base”. E Thomas Goodwin chegou a dizer que depois da Bíblia The marrow era o melhor livro do mundo.[6]
Seu sistema eclesiológico lançou as bases para o Congregacionalismo não separatista na Nova Inglaterra.[7]

ALGUMAS OBRAS DO DR. AMES

       1-      Conscience, with the power and cases thereof (1630). Sobre ética cristã.
       2-      The marrow of sacred divinity (1627). Manual teológico.
       3-      Technometry. Exposição de um sistema de educação.
    4-      An Analytical Exposition of Both the Epistles of the Apostle Peter. Exposição das cartas de Pedro.
     5-      A Fresh Suit Against Human Ceremonies in God’s Worship. Contra cerimônias humanas na adoração a Deus.




[1] BEEKE, Joel R. e PRICE, Randall J. Paixão pela pureza: conheça os puritanos, p. 102.
[2] Hugh Peters, 1598-1660, Londres, ministro congregacional inglês, pregador do exército e propagandista durante a Guerra Civil e protetorado de Oliver Cromwell. Com a restauração da monarquia inglesa, em 1660, foi considerado culpado de cumplicidade na execução de Charles I e foi executado.
[3]  BEEKE, Joel R. & JONES, Mark. Teologia Puritana (São Paulo: Vida Nova, 2016), p. 83.
[4] Ibid. Idem, nota 12.
[5] Faculdades fundadas pelos Congregacionais como escolas para formar seus ministros; Harvard fundada em 1636 e Yale em 1701.
[6] BEEKE, Joel R. & JONES, Mark. Teologia Puritana, p. 97.
[7] Para saber mais sobre os Separatistas congregacionalistas veja: GOMES, Joelson. Os congregacionais: uma história da tradição congregacional (João Pessoa (PB): Moura Ramos Gráfica e Editora, 2017).

* CONGREGACIONALISMO, O QUE É ISSO?

Congregacionalismo é a forma de governo de Igreja em a autoridade repousa sobre a independência e a autonomia de cada Igreja local. Este tem sido declarado como o sistema primitivo que representa a forma mais antiga de governo da Igreja. O Congregacionalismo moderno, no entanto, data a partir da Reforma Protestante.

Já em 1550, há indícios de homens e mulheres se reunindo para pregar a Palavra de Deus e administrar os sacramentos como separados da Igreja nacional da Inglaterra (Anglicana).

Quando ficou claro que a rainha Elizabeth I não tinha a intenção de uma reforma radical da Igreja inglesa, o número dessas comunidades separadas aumentou.

Robert Browne, o primeiro teórico do sistema, insistia em que estas «igrejas separadas", deviam ser independente do Estado e ter o direito de governarem-se a si próprias, estabelecendo assim as linhas essenciais do Congregacionalismo como o conhecemos hoje.

Desde o 1580 os Brownistas (como passaram a ser chamados estes dissidentes) aumentaram em número e os contornos do congregacionalismo tornaram-se mais claramente definidos; igrejas foram formadas em Norwich, Londres, Scrooby e Gainsborough.

O movimento foi impulsionado pela perseguição. Alguns destes separatistas migraram para a Holanda (1607) e depois (1620) para os Estados Unidos da América, onde o Congregacionalismo foi influente na formação tanto da religião quanto da política daquele país.

Na Inglaterra os Independentes (como também eram chamados) formaram a espinha dorsal do exército de Oliver Cromwell. Seus teólogos defenderam a sua posição congregacionalista na Assembléia de Westiminster e os seus princípios foram reafirmados na Declaração Savoy de Fé e Ordem, em 1658.

Mesmo sendo autônomas esta independência das igrejas Congregacionais não as coloca em completo isolamento. Elas reconheceram o vínculo de uma fé comum e de uma ordem e formaram Associações locais de apoio mútuo e estreitamento de relações.

A União Congregacional da Escócia foi formado em 1812; a da Inglaterra e País de Gales em 1832.

Estas uniões não tinham qualquer autoridade legislativa, mas serviram para aconselhar as igrejas e exprimir as suas idéias em comum.

Em 1972 a maior parte das Igrejas Congregacionais na Inglaterra e no País de Gales se uniu com a Igreja Presbiteriana da Inglaterra para formar a Igreja Reformada Unida. Muitas igrejas que não concordaram com esta união formam hoje a Federação Congregacional e a Comunhão de Igrejas Evangélicas Independentes.

Nos E.U.A. na maior parte das Igrejas Cristãs Congregacionais, em 1957 ingressou com a Igreja Evangélica Reformada em uma união para formar a Igreja Unida de Cristo. As igrejas que não concordaram com esta união formaram outras associações até hoje existentes, com destaque para a Associação Nacional de Igrejas Cristãs Congregacionais e para a Conferência Cristã Conservadora Congregacional.

Adpt. Joelson Gomes

The Concise Oxford Dictionary of the Christian Church 2000, originalmente publicado por Oxford University Press, 2000.

* OS PRIMEIROS CONGREGACIONALISTAS

A maneira Congregacional de igreja na Inglaterra provavelmente tenha seu nascimento em 1567,[1] num pequeno grupo de cerca de cem irmãos que insatisfeitos com tudo o que estava acontecendo dentro da igreja inglesa, começou a se reunir para adorar secretamente no “Salão Plumbers”, Londres. Eles eram chamados de “a Igreja de Privye”,[2] (ou Igreja Privada) transformando-se esta na primeira das muitas congregações separatistas de protesto na Inglaterra. O ajuntamento foi considerado ilegal pelas autoridades, e em 19 de Junho de 1567, e segundo o proeminente historiador Congregacional Williston Walker, os seus membros foram presos, açoitados em público ou mortos.[3] Este dia é considerado por muitos historiadores como o dia da origem moderna da maneira Congregacional de ser igreja.[4] A congregação do Salão Plumbers foi assim dispersa, mas foi logo reorganizada, e agora com mais clareza de sua finalidade. Os seus membros fizeram um pacto entre si para adoração a Deus de acordo com sua compreensão puritana. Mas, mais uma vez foram descobertos, diversos membros foram novamente presos, e outros junto com seu pastor Richard Fitz foram mortos. Mas, a chama não se apagou e a história da Igreja Congregacional é longa, rica, linda e inspiradora.
___________________


NOTAS

[1] CAIRNS, Earle E. O Cristianismo Através dos Séculos (São Paulo: Vida Nova, 2006) p. 275.

[2] Conforme “The Reformation in England” em <http://www.ucc.org/about-us/short-course/the-reformation-in-england.html> Acesso em 08/07/07.

[3] História da Igreja Cristã, 2a ed. (São Paulo: JUERP/ ASTE, 1980), p. 547. Conforme também <http://www.usgennet.org/usa/topic/colonial/religion/history.html> Acesso 08/12/07.

[4] Conforme <http://chi.gospelcom.net/DAILYF/2002/06/daily-06-19-2002.shtml> Acesso em 08/12/07.

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