(Escrita entre 1630 e 1648; publicada pela primeira vez nas “Atas” de 1856 da Sociedade Histórica de Massachusetts)
William Bradford, natural de Yorkshire, que se juntou à igreja separatista em Scrooby quando ainda menino, era membro do grupo que migrou para a Holanda e depois se fez de vela para a América no Mayflower. Eleito governador da Colônia de Plymouth em 1621, ocupou o cargo apenas por breves e infreqüentes intervalos até sua morte, ocorrida em 1657. Sua narrativa, da qual é tirado o trecho que se segue, proporciona manancial valiosíssimo para a história da colônia.
"... Depois de passar longo tempo no mar, toparam com a terra chamada Cabo Cod; a qual, tendo sido encontrada e reconhecida com certeza, os encheu de contentamento. Depois de terem deliberado um pouco entre si e com o capitão do navio, viraram de bordo e resolveram rumar para o sul (sendo o vento e o tempo favoráveis) a fim de encontrar algum lugar à beira do rio Hudson para sua habitação. Mas depois de terem singrado nesse rumo durante metade do dia, viram-se no meio de perigosas e atroadoras ondas de rebentação, e estavam ali tão embaraçados que se supunham em grande perigo; e como o vento, por outro lado, deixasse de soprar sobre eles, resolveram rumar de novo para o Cabo e julgaram-se felizes por safar-se desses perigos antes que a noite os alcançasse, o que, querendo a providência de Deus, conseguiram. E no dia seguinte entraram no fundeadouro do Cabo, onde ficaram em segurança...
Tendo assim chegado a bom porto e desembarcado seguros em terra, caíram de joelhos e deram graças a Deus do céu, que os trouxera por sobre o vasto e furioso oceano, e os livrara de todos os perigos e misérias dele, para que pudessem novamente pôr os pés em terra firme e estável, seu elemento próprio.
(...)
Nesses princípios duros e difíceis, encontraram descontentamentos e murmurações entre alguns, e falas e atitudes sediciosas em outros; mas estes foram logo debelados e superados pela sabedoria, pela paciência, e pela direção justa e igual das coisas por parte do Governador [John Carver] e seus auxiliares, que se mantiveram fielmente juntos, de um modo geral. Mas o mais triste e lamentável foi que, no espaço de 2 ou 3 meses, metade da companhia morreu, especialmente em janeiro e fevereiro, quando o inverno estava no auge e havia falta de casas e outros confortos; estando os homens atacados de escorbuto e outras moléstias, que a longa viagem e sua incômoda situação lhes acarretaram; desse modo, como morriam, às vezes,
Mas não posso deixar de referir aqui outra passagem notável que não se há de esquecer. Como essa calamidade surgiu entre os passageiros que deviam ser deixados aqui para plantar e foram desembarcados à pressa na praia... (...) Ora, a doença começou a alastrar-se entre os tripulantes também, de modo que quase metade da companhia morreu antes que o navio partisse dali, como aconteceu a muitos oficiais e homens mais vigorosos, como o contramestre, o artilheiro, 3 intendentes, o cozinheiro e outros. (...) Mas entre os da sua companhia surgiu então outro tipo muito diferente de atitude na miséria que afligia os passageiros; porque os que tinham sido antes bons companheiros na bebida e nas reuniões alegres no tempo da saúde e do bem-estar, começaram a desertar uns dos outros nesta calamidade, dizendo não querer arriscar suas vidas por eles, pois se tornariam infectados se fossem ajudá-los em suas cabinas, mesmo porque, depois que eles tivessem morrido por causa disso, pouco ou nada fariam por eles e, portanto, se tivessem de morrer, que morressem. Mas os passageiros que ainda se achavam a bordo lhes deram as mostras que puderam de misericórdia, o que abrandou alguns corações, como o contramestre (e outros), moço orgulhoso, que freqüentemente insultava e escarnecia os passageiros; mas quando ficou fraco, os demais, compadecidos, ajudaram-no; e ele confessou que não merecia ser tratado assim, uma vez que os maltratara por palavras e atos. Vejo agora, disse ele, que mostrais realmente vosso amor de Cristãos uns aos outros, mas nós nos deixamos uns aos outros jazer e morrer como cães...
Durante todo esse tempo, os índios se esgueiravam sorrateiramente por ali e, às vezes, mostravam-se à distância mas, quando alguém se aproximava, punham-se a correr. E, de uma feita, roubaram os instrumentos dos homens, onde estes tinham estado trabalhando e de onde se tinham ausentado para jantar. Mas lá pelo dia 16 de março, surgiu ousadamente entre eles certo índio e falou-lhes num inglês estropiado, mas que eles compreenderam muito bem, embora se maravilhassem disso. Por fim, interrogando-o, acabaram compreendendo que ele não era daquelas partes, mas pertencia às partes orientais, visitadas por alguns navios ingleses que lá tinham ido para pescar, e que ele ficara conhecendo, podendo nomear vários pelo nome, e com os quais aprendera a língua que falava. Esse índio lhes foi muito útil, familiarizando-os co inúmeras coisas relativas ao estado do país nas partes orientais em que vivia, o que se revelou mais tarde proveitoso para eles; e também com o povo daqui, seus nomes, seu número e sua força; sua situação e distância daquele lugar, e quem era seu chefe. Chamava-se Samaset; falou-lhes também de outro índio chamado Squanto, nativo daquele lugar, que estivera na Inglaterra e falava inglês melhor do que ele. Dispensado, após algum tempo de entretenimento e troca de presentes, voltou pouco depois, em companhia de mais 5, que trouxeram todos os instrumentos roubados dias antes, e preparou o caminho para a chegada do seu grande Sachem, chamado Massasoyt; o qual, 4 ou 5 dias mais tarde, veio com o chefe dos seus amigos e outra comitiva, da qual fazia parte o supracitado Squanto. Com o qual, depois de amistoso entretenimento, ajustaram uma paz (que continua agora há 24 anos)...
(...)
Depois dessas coisas, ele voltou para a sua terra, chamada Sowans, a umas
Harold C. Syrett (org.), Documentos Históricos dos Estados Unidos (São Paulo: Cultrix, 1980), p. 14-15, 19-21.
Fonte. Blog Fiel
5 comentários:
Após a primeira colheita de milho os peregrinos e seus amigos indígenas fizeram a primeira celebração de Ação de Graças, para agradecer a Deus por tê-los ajudado a superar tantas dificuldades. Em minha igreja herdamos esse costume, de oferecer cultos em Ação de Graças, convidando pessoas da igreja e de fora dela para comer conosco e agradecer a Deus pelas bênçãos alcançadas.
Gostei muito do texto!
Olá graça e paz. Passando para conhecer seu espaço, benção pura e de muito bons conteúdos.Confesso que não li tudo por aqui , mas vou dar uma boa conferida depois, ok?rsrs. Que Deus continue te fazendo ramo frutífero e que 2010 seja pleno e de muitas conquistas em Deus. Se quiser nos visitar será uma alegria.
blogdamulhercrist.blogspot.com
Meu seu blog é espetacular, show, not°10 desejo muito sucesso em sua caminhada e objetivo no seu Hiper blog e que DEUS ilumine seus caminhos e da sua família
Um grande abraço e tudo de bom
Ass:Rodrigo
Graça e Paz da parte de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo! Jâ sou crente hâ bastante tempo mas devo confessar que só há pouco tempo tenho me interessado pela história da formação da América, os puritanos...e estou maravilhado com o que estou aprendendo! O texto acima foi uma bênção para mim! Deus seja louvado e recompense ao irmão!
Estou assistindo o filme "Santos e estranhos" que relata a histórias dessa comunidade. Estou feliz em saber como Deus é bom ao encher o coração de homens e mulheres de amor por Ele e Jesus Cristo nosso Salvador. Arriscar tudo por amor ao evangelho só o criador pode dar esse poder.
Postar um comentário