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terça-feira, 15 de dezembro de 2009

RELATO DO GONVERNADOR WILLIAM BRADFORD SOBRE A CHEGADAOS PEREGRINOS A NOVA INGLATERRA


(Escrita entre 1630 e 1648; publicada pela primeira vez nas “Atas” de 1856 da Sociedade Histórica de Massachusetts)

William Bradford, natural de Yorkshire, que se juntou à igreja separatista em Scrooby quando ainda menino, era membro do grupo que migrou para a Holanda e depois se fez de vela para a América no Mayflower. Eleito governador da Colônia de Plymouth em 1621, ocupou o cargo apenas por breves e infreqüentes intervalos até sua morte, ocorrida em 1657. Sua narrativa, da qual é tirado o trecho que se segue, proporciona manancial valiosíssimo para a história da colônia.

"... Depois de passar longo tempo no mar, toparam com a terra chamada Cabo Cod; a qual, tendo sido encontrada e reconhecida com certeza, os encheu de contentamento. Depois de terem deliberado um pouco entre si e com o capitão do navio, viraram de bordo e resolveram rumar para o sul (sendo o vento e o tempo favoráveis) a fim de encontrar algum lugar à beira do rio Hudson para sua habitação. Mas depois de terem singrado nesse rumo durante metade do dia, viram-se no meio de perigosas e atroadoras ondas de rebentação, e estavam ali tão embaraçados que se supunham em grande perigo; e como o vento, por outro lado, deixasse de soprar sobre eles, resolveram rumar de novo para o Cabo e julgaram-se felizes por safar-se desses perigos antes que a noite os alcançasse, o que, querendo a providência de Deus, conseguiram. E no dia seguinte entraram no fundeadouro do Cabo, onde ficaram em segurança...

Tendo assim chegado a bom porto e desembarcado seguros em terra, caíram de joelhos e deram graças a Deus do céu, que os trouxera por sobre o vasto e furioso oceano, e os livrara de todos os perigos e misérias dele, para que pudessem novamente pôr os pés em terra firme e estável, seu elemento próprio.

(...)

Nesses princípios duros e difíceis, encontraram descontentamentos e murmurações entre alguns, e falas e atitudes sediciosas em outros; mas estes foram logo debelados e superados pela sabedoria, pela paciência, e pela direção justa e igual das coisas por parte do Governador [John Carver] e seus auxiliares, que se mantiveram fielmente juntos, de um modo geral. Mas o mais triste e lamentável foi que, no espaço de 2 ou 3 meses, metade da companhia morreu, especialmente em janeiro e fevereiro, quando o inverno estava no auge e havia falta de casas e outros confortos; estando os homens atacados de escorbuto e outras moléstias, que a longa viagem e sua incômoda situação lhes acarretaram; desse modo, como morriam, às vezes, 2 a 3 por dia, na supradita ocasião; de cento e tantas pessoas, mal sobraram cinqüenta. E destas, no tempo de maior aperto, havia apenas 6 ou 7 sadias, as quais, seja dito em seu louvor, não se furtaram a trabalhos, nem de dia nem de noite, mas com abundância de lidas e risco da própria saúde, foram buscar lenha para os doentes, fizeram fogueiras para eles, cozinharam-lhes a carne, fizeram-lhes as camas, lavaram suas roupas nauseabundas, vestiram-nos e despiram-nos; numa palavra, realizaram todos os trabalhos grosseiros e necessários que os que têm estômagos delicados e sensíveis não suportam sequer ouvir nomeados; e tudo isso de bom grado e boa cara, sem a menor relutância, mostrando neste ponto o amor verdadeiro que consagravam aos amigos e irmãos. (...) E, todavia, o Senhor sustentou de tal maneira essas pessoas que, no meio da calamidade geral, não se deixaram infeccionar por moléstias nem por quebradeiras. E o que eu disse deles, posso estender a muitos outros que morreram nessa aflição geral, e a outros que ainda vivem, pois enquanto tiveram saúde, ou ainda tinham alguma força, não faltaram aos que deles necessitavam. E não duvido de que sua recompensa esteja com o Senhor.

Mas não posso deixar de referir aqui outra passagem notável que não se há de esquecer. Como essa calamidade surgiu entre os passageiros que deviam ser deixados aqui para plantar e foram desembarcados à pressa na praia... (...) Ora, a doença começou a alastrar-se entre os tripulantes também, de modo que quase metade da companhia morreu antes que o navio partisse dali, como aconteceu a muitos oficiais e homens mais vigorosos, como o contramestre, o artilheiro, 3 intendentes, o cozinheiro e outros. (...) Mas entre os da sua companhia surgiu então outro tipo muito diferente de atitude na miséria que afligia os passageiros; porque os que tinham sido antes bons companheiros na bebida e nas reuniões alegres no tempo da saúde e do bem-estar, começaram a desertar uns dos outros nesta calamidade, dizendo não querer arriscar suas vidas por eles, pois se tornariam infectados se fossem ajudá-los em suas cabinas, mesmo porque, depois que eles tivessem morrido por causa disso, pouco ou nada fariam por eles e, portanto, se tivessem de morrer, que morressem. Mas os passageiros que ainda se achavam a bordo lhes deram as mostras que puderam de misericórdia, o que abrandou alguns corações, como o contramestre (e outros), moço orgulhoso, que freqüentemente insultava e escarnecia os passageiros; mas quando ficou fraco, os demais, compadecidos, ajudaram-no; e ele confessou que não merecia ser tratado assim, uma vez que os maltratara por palavras e atos. Vejo agora, disse ele, que mostrais realmente vosso amor de Cristãos uns aos outros, mas nós nos deixamos uns aos outros jazer e morrer como cães...

Durante todo esse tempo, os índios se esgueiravam sorrateiramente por ali e, às vezes, mostravam-se à distância mas, quando alguém se aproximava, punham-se a correr. E, de uma feita, roubaram os instrumentos dos homens, onde estes tinham estado trabalhando e de onde se tinham ausentado para jantar. Mas lá pelo dia 16 de março, surgiu ousadamente entre eles certo índio e falou-lhes num inglês estropiado, mas que eles compreenderam muito bem, embora se maravilhassem disso. Por fim, interrogando-o, acabaram compreendendo que ele não era daquelas partes, mas pertencia às partes orientais, visitadas por alguns navios ingleses que lá tinham ido para pescar, e que ele ficara conhecendo, podendo nomear vários pelo nome, e com os quais aprendera a língua que falava. Esse índio lhes foi muito útil, familiarizando-os co inúmeras coisas relativas ao estado do país nas partes orientais em que vivia, o que se revelou mais tarde proveitoso para eles; e também com o povo daqui, seus nomes, seu número e sua força; sua situação e distância daquele lugar, e quem era seu chefe. Chamava-se Samaset; falou-lhes também de outro índio chamado Squanto, nativo daquele lugar, que estivera na Inglaterra e falava inglês melhor do que ele. Dispensado, após algum tempo de entretenimento e troca de presentes, voltou pouco depois, em companhia de mais 5, que trouxeram todos os instrumentos roubados dias antes, e preparou o caminho para a chegada do seu grande Sachem, chamado Massasoyt; o qual, 4 ou 5 dias mais tarde, veio com o chefe dos seus amigos e outra comitiva, da qual fazia parte o supracitado Squanto. Com o qual, depois de amistoso entretenimento, ajustaram uma paz (que continua agora há 24 anos)...

(...)

Depois dessas coisas, ele voltou para a sua terra, chamada Sowans, a umas 40 milhas daquele lugar, mas Squanto continuou com eles, e serviu-lhes de intérprete, e foi um instrumento especial mandado por Deus para ajudá-los além das suas expectativas. Ensinou-os a semear o milho, onde pegar peixe e arranjar outros bens, e folhes também piloto para levá-los a lugares desconhecidos em proveito deles, e nunca os deixou até morrer..."


Harold C. Syrett (org.), Documentos Históricos dos Estados Unidos (São Paulo: Cultrix, 1980), p. 14-15, 19-21.


Fonte. Blog Fiel

5 comentários:

Fernanda disse...

Após a primeira colheita de milho os peregrinos e seus amigos indígenas fizeram a primeira celebração de Ação de Graças, para agradecer a Deus por tê-los ajudado a superar tantas dificuldades. Em minha igreja herdamos esse costume, de oferecer cultos em Ação de Graças, convidando pessoas da igreja e de fora dela para comer conosco e agradecer a Deus pelas bênçãos alcançadas.
Gostei muito do texto!

Ana claudia disse...

Olá graça e paz. Passando para conhecer seu espaço, benção pura e de muito bons conteúdos.Confesso que não li tudo por aqui , mas vou dar uma boa conferida depois, ok?rsrs. Que Deus continue te fazendo ramo frutífero e que 2010 seja pleno e de muitas conquistas em Deus. Se quiser nos visitar será uma alegria.
blogdamulhercrist.blogspot.com

Anônimo disse...

Meu seu blog é espetacular, show, not°10 desejo muito sucesso em sua caminhada e objetivo no seu Hiper blog e que DEUS ilumine seus caminhos e da sua família
Um grande abraço e tudo de bom
Ass:Rodrigo

Unknown disse...

Graça e Paz da parte de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo! Jâ sou crente hâ bastante tempo mas devo confessar que só há pouco tempo tenho me interessado pela história da formação da América, os puritanos...e estou maravilhado com o que estou aprendendo! O texto acima foi uma bênção para mim! Deus seja louvado e recompense ao irmão!

Unknown disse...

Estou assistindo o filme "Santos e estranhos" que relata a histórias dessa comunidade. Estou feliz em saber como Deus é bom ao encher o coração de homens e mulheres de amor por Ele e Jesus Cristo nosso Salvador. Arriscar tudo por amor ao evangelho só o criador pode dar esse poder.

* CONGREGACIONALISMO, O QUE É ISSO?

Congregacionalismo é a forma de governo de Igreja em a autoridade repousa sobre a independência e a autonomia de cada Igreja local. Este tem sido declarado como o sistema primitivo que representa a forma mais antiga de governo da Igreja. O Congregacionalismo moderno, no entanto, data a partir da Reforma Protestante.

Já em 1550, há indícios de homens e mulheres se reunindo para pregar a Palavra de Deus e administrar os sacramentos como separados da Igreja nacional da Inglaterra (Anglicana).

Quando ficou claro que a rainha Elizabeth I não tinha a intenção de uma reforma radical da Igreja inglesa, o número dessas comunidades separadas aumentou.

Robert Browne, o primeiro teórico do sistema, insistia em que estas «igrejas separadas", deviam ser independente do Estado e ter o direito de governarem-se a si próprias, estabelecendo assim as linhas essenciais do Congregacionalismo como o conhecemos hoje.

Desde o 1580 os Brownistas (como passaram a ser chamados estes dissidentes) aumentaram em número e os contornos do congregacionalismo tornaram-se mais claramente definidos; igrejas foram formadas em Norwich, Londres, Scrooby e Gainsborough.

O movimento foi impulsionado pela perseguição. Alguns destes separatistas migraram para a Holanda (1607) e depois (1620) para os Estados Unidos da América, onde o Congregacionalismo foi influente na formação tanto da religião quanto da política daquele país.

Na Inglaterra os Independentes (como também eram chamados) formaram a espinha dorsal do exército de Oliver Cromwell. Seus teólogos defenderam a sua posição congregacionalista na Assembléia de Westiminster e os seus princípios foram reafirmados na Declaração Savoy de Fé e Ordem, em 1658.

Mesmo sendo autônomas esta independência das igrejas Congregacionais não as coloca em completo isolamento. Elas reconheceram o vínculo de uma fé comum e de uma ordem e formaram Associações locais de apoio mútuo e estreitamento de relações.

A União Congregacional da Escócia foi formado em 1812; a da Inglaterra e País de Gales em 1832.

Estas uniões não tinham qualquer autoridade legislativa, mas serviram para aconselhar as igrejas e exprimir as suas idéias em comum.

Em 1972 a maior parte das Igrejas Congregacionais na Inglaterra e no País de Gales se uniu com a Igreja Presbiteriana da Inglaterra para formar a Igreja Reformada Unida. Muitas igrejas que não concordaram com esta união formam hoje a Federação Congregacional e a Comunhão de Igrejas Evangélicas Independentes.

Nos E.U.A. na maior parte das Igrejas Cristãs Congregacionais, em 1957 ingressou com a Igreja Evangélica Reformada em uma união para formar a Igreja Unida de Cristo. As igrejas que não concordaram com esta união formaram outras associações até hoje existentes, com destaque para a Associação Nacional de Igrejas Cristãs Congregacionais e para a Conferência Cristã Conservadora Congregacional.

Adpt. Joelson Gomes

The Concise Oxford Dictionary of the Christian Church 2000, originalmente publicado por Oxford University Press, 2000.

* OS PRIMEIROS CONGREGACIONALISTAS

A maneira Congregacional de igreja na Inglaterra provavelmente tenha seu nascimento em 1567,[1] num pequeno grupo de cerca de cem irmãos que insatisfeitos com tudo o que estava acontecendo dentro da igreja inglesa, começou a se reunir para adorar secretamente no “Salão Plumbers”, Londres. Eles eram chamados de “a Igreja de Privye”,[2] (ou Igreja Privada) transformando-se esta na primeira das muitas congregações separatistas de protesto na Inglaterra. O ajuntamento foi considerado ilegal pelas autoridades, e em 19 de Junho de 1567, e segundo o proeminente historiador Congregacional Williston Walker, os seus membros foram presos, açoitados em público ou mortos.[3] Este dia é considerado por muitos historiadores como o dia da origem moderna da maneira Congregacional de ser igreja.[4] A congregação do Salão Plumbers foi assim dispersa, mas foi logo reorganizada, e agora com mais clareza de sua finalidade. Os seus membros fizeram um pacto entre si para adoração a Deus de acordo com sua compreensão puritana. Mas, mais uma vez foram descobertos, diversos membros foram novamente presos, e outros junto com seu pastor Richard Fitz foram mortos. Mas, a chama não se apagou e a história da Igreja Congregacional é longa, rica, linda e inspiradora.
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NOTAS

[1] CAIRNS, Earle E. O Cristianismo Através dos Séculos (São Paulo: Vida Nova, 2006) p. 275.

[2] Conforme “The Reformation in England” em <http://www.ucc.org/about-us/short-course/the-reformation-in-england.html> Acesso em 08/07/07.

[3] História da Igreja Cristã, 2a ed. (São Paulo: JUERP/ ASTE, 1980), p. 547. Conforme também <http://www.usgennet.org/usa/topic/colonial/religion/history.html> Acesso 08/12/07.

[4] Conforme <http://chi.gospelcom.net/DAILYF/2002/06/daily-06-19-2002.shtml> Acesso em 08/12/07.

ACESSE TAMBÉM