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sábado, 30 de maio de 2015

A SINGULARIDADE DO AMOR CRISTÃO

Por Jonathan Edwards
 Fiel


A singularidade da caridade cristã, ou do amor cristão, se evidencia pelas seguintes marcas: 

Primeira, toda caridade e amor cristãos procede do mesmo Espírito que influencia o coração. O genuíno amor cristão se origina do sopro do mesmo Espírito, seja para com Deus, seja para com o homem. O Espírito de Deus é o Espírito de amor, e quando ele adentra a alma, o amor também entra aí com ele. Deus é amor, e aquele que tem Deus habitando em si por meio de seu Espírito, também terá o amor habitando em si. A natureza do Espírito Santo é amor; e é por comunicar-se, em sua própria natureza, aos santos, que seus corações se enchem da caridade divina. Disto descobrimos que os santos são participantes da natureza divina, e o amor cristão é chamado de “amor do Espírito” (Rm 15.30) e “amor no Espírito” (Cl 1.8), e as próprias entranhas do amor e misericórdia parecem significar a mesma coisa que a comunhão do Espírito (Fp 2.1). É também o mesmo Espírito que infunde amor para com Deus (Rm 5.5); é pela habitação desse mesmo Espírito que a alma permanece no amor para com Deus e para com o homem (1Jo 3.23, 24; 4.12, 13).

Segunda, o amor cristão, seja para com Deus, seja para com o homem, é operado no coração pela mesma obra do Espírito. Não há duas obras do Espírito de Deus, uma a infundir um espírito de amor para com Deus, e a outra a infundir um espírito de amor para com os homens; mas, ao produzir uma, o Espírito produz também a outra. Na obra de conversão, o Espírito Santo renova o coração, dando-lhe uma disposição divina (Ef 4.23); assim, é uma e a mesma disposição divina que é operada no coração, a qual se manifesta em amor, seja para com Deus, seja para com o homem.

Terceira, quando Deus e o homem são amados com um amor realmente cristão, ambos são amados com base nos mesmos motivos. Quando Deus é amado de uma maneira correta, ele é amado por sua excelência e pela beleza de sua natureza, especialmente pela santidade de sua natureza; e é proveniente do mesmo motivo que os santos são amados – por causa da santidade. Todas as coisas que são amadas com um amor realmente cristão são amadas com base no mesmo respeito para com Deus. Amor para com Deus é o fundamento do gracioso amor para com os homens; e os homens são amados, ou porque em algum aspecto se assemelham a Deus, na posse de sua natureza e imagem espiritual, ou em razão da relação que mantêm com ele na capacidade de seus filhos ou criaturas – como aqueles que são abençoados por ele, ou a quem sua misericórdia é oferecida, ou de alguma outra maneira por consideração a ele. Observe-se apenas que, embora o amor cristão seja um em seu princípio, contudo é distinguido e denominado com respeito a seus objetos e os modos de seu exercício e seus graus.

Além dessas marcas, a caridade será também uma evidência da verdadeira fé salvadora, que distingue os verdadeiros cristãos. Isso pode ser visto de duas maneiras: 

Primeira, que o amor disporá o coração a todos os atos próprios de respeito, seja para com Deus, seja para com o homem. Isto é evidente, visto que um genuíno respeito, seja para com Deus, ou seja para com o homem, consiste em amor. Se uma pessoa ama a Deus sinceramente, este amor a disporá a render-lhe todo o respeito próprio; e os homens não carecem de nenhum outro incentivo para mostrar, uns aos outros, todo o devido respeito, senão do amor. O amor para com Deus disporá uma pessoa a honrá-lo, a cultuá-lo e a adorá-lo, e sinceramente reconhecer sua grandeza, glória e domínio. E assim o amor disporá a todos os atos de obediência a Deus; pois o servo que ama a seu senhor, e o súdito que ama a seu soberano, se disporão à sujeição e obediência próprias. O amor disporá o cristão a portar-se para com Deus como um filho para com seu pai; em meio às dificuldades, recorre ao pai por auxílio e põe nele toda sua confiança; como também é natural, em caso de necessidade ou aflição, recorrermos a quem amamos em busca de compaixão e socorro. Ele nos levará também a dar crédito à sua palavra e a depositar nele nossa confiança; pois não podemos suspeitar da veracidade daqueles com quem mantemos plena amizade. Ele nos disporá a louvar a Deus pelas bênçãos que dele recebemos, assim como nos dispomos à gratidão por qualquer bondade que recebemos de nossos semelhantes a quem amamos. O amor ainda disporá nossos corações à submissão à vontade de Deus, pois somos mais dispostos a fazer a vontade dos que amamos do que a dos outros. Naturalmente, desejamos satisfazer e ser agradáveis aos que amamos; e a verdadeira afeição e amor para com Deus disporão o coração ao reconhecimento do direito que Deus tem de governar, e que ele é digno de fazê-lo, e assim esse coração se disporá à submissão. O amor para com Deus nos disporá a andar humildemente com ele, pois aquele que ama a Deus se disporá a reconhecer a vasta distância entre Deus e ele. A essa pessoa será agradável exaltar a Deus, a pô-lo acima de tudo mais e a encurvar-se diante dele. O verdadeiro cristão se deleita em exaltar a Deus com seu próprio aviltamento, porquanto ele o ama. Ele está pronto a reconhecer que Deus é digno disto, e se deleita em lançar-se ao pó diante do Altíssimo, movido de sincero amor por ele.

E assim uma devida consideração da natureza do amor mostrará que ele dispõe os homens a todos os seus deveres para com seus semelhantes. Se os homens nutrem um sincero amor por seus semelhantes, esse amor os disporá a todos os atos de justiça a esses semelhantes – pois o amor e amizade reais nos disporão a dar sempre aos que amamos o que lhes é devido e jamais agir errado com eles: “O amor não pratica o mal contra o próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o amor” (Rm 13.10). O mesmo amor nos disporá a sermos verdadeiros para com nossos semelhantes e tenderá a impedir toda mentira, fraude e engano. Os homens não se dispõem à fraude e traição contra os que amam; pois tratar assim os homens equivale a tratá-los como inimigos; o amor, porém, destrói a inimizade. Assim o apóstolo faz uso da unidade que deve haver entre os cristãos, mediante o argumento de induzi-los à verdade que deve haver entre uma pessoa e outra (Ef 4.25). O amor nos disporá a andarmos humildemente entre os homens; pois um amor real e genuíno nos inclinará a nutrirmos pensamentos elevados acerca dos outros e a pensarmos que eles são melhores que nós. Ele disporá os homens a se honrarem reciprocamente, pois todos são naturalmente inclinados a pensar de modo sublime sobre aqueles a quem amam e a render-lhes honra; de modo que, pelo amor, se cumprem aqueles preceitos: “Tratai a todos com honra, amai aos irmãos” (1Pe 2.17); “Nada façais por partidarismo, ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo” (Fp 2.3). O amor disporá ao contentamento na esfera em que Deus nos colocou, sem que cobicemos as coisas que nosso semelhante possui, ou o invejemos em razão de algo bom que porventura possua. Ele disporá os homens à mansidão e brandura em sua conduta para com seus semelhantes, e a não tratá-los com raiva ou violência, ou com um espírito acalorado, e sim com moderação, serenidade e mansidão. Ele refreará e restringirá todo espírito de amargura; pois no amor não existe amargura, e sim uma disposição e afeto da alma gentil e doce. Ele prevenirá as rixas e contendas, e disporá os homens a um comportamento pacifista, bem como a perdoar o tratamento injurioso recebido de outros; como lemos em Provérbios: “O ódio excita contendas, mas o amor cobre todas as transgressões” (Pv 10.12).

O amor disporá os homens a todos os atos de misericórdia para com seus semelhantes, quando estiverem enfrentando alguma aflição ou calamidade, pois somos naturalmente dispostos à piedade para com os que amamos, quando são afligidos. Ele disporá os homens a fazer doação aos pobres, a carregar as cargas alheias e a chorar com os que choram, tanto quanto a alegrar-se com os que se alegram. Ele disporá os homens aos deveres que devem uns para com os outros em seus diversos lugares e relações. Ele disporá um povo a todos os deveres para com seus governantes e a dar-lhes toda aquela honra e submissão que são parte de seu dever para com eles. E disporá os governantes a liderar o povo sobre o qual são postos, com justiça, seriedade e fidelidade, buscando seu bem, e não por algum capricho pessoal. Ele disporá um povo a todo dever legítimo para com seus pastores, a atentar bem para seus conselhos e instruções, e a submeter-se a eles na casa de Deus, a sustentá-los com simpatia e a orar por eles, como aqueles por cujas almas eles velam; e disporá os ministros a buscarem fiel e incessantemente o bem das almas de seu povo, a velar por eles como quem tem de prestar conta. O amor disporá ao bom relacionamento entre superiores e inferiores: disporá os filhos a honrarem seus pais, os empregados a serem obedientes a seus patrões, não porque estejam olhando, mas com um coração singelo e sincero; e disporá os patrões ao exercício da brandura e bondade para com seus empregados.

Assim o amor deve dispor a todos os deveres, seja para com Deus, seja para com o homem. E se ele assim dispõe a todos os deveres, então, segue-se que ele é a raiz, a fonte e, por assim dizer, a abrangência de todas as virtudes. Ele é um princípio que, se bem implantado no coração, sozinho será suficiente para produzir toda a boa prática; e toda a disposição correta para com Deus e para com o homem se acha sumariada nele e provém dele como o fruto da árvore, ou a corrente da fonte.

Segunda, a razão ensina que são infundadas e hipócritas todas as pretensas realizações ou virtudes que porventura existam sem o amor. Se não houver amor no que o homem faz, então em sua conduta não há verdadeiro respeito para com Deus ou para com os homens; se é assim, então, certamente não existe sinceridade. Sem o legítimo respeito para com Deus, a religião equivale a nada. A própria noção de religião entre a raça humana é que ela é o exercício e expressão das criaturas desse respeito para com o Criador. Mas se não houver nenhum respeito ou amor genuíno, então não há no homem religião real, senão que ela é irreal e fútil. Assim, se a fé de uma pessoa for de tal espécie que não haja nela verdadeiro respeito para com Deus, a razão ensina que ela deve ser sem efeito; pois se nela não houver amor para com Deus, então não pode haver verdadeiro respeito para com ele. Disto transparece que o amor está sempre contido numa fé genuína e viva, e que ele é a vida e a alma genuínas e legítimas da fé, pois sem o amor a fé é tão morta quanto está morto o corpo sem a sua alma; sendo o amor o que distingue uma fé viva de todas as demais. Mais adiante falaremos disto com mais detalhes. Sem amor para com Deus, reiterando, não pode haver uma genuína honra para com ele. Uma pessoa jamais será cordial na honra que parece render àquele a quem não ama; de modo que, sem amor, a honra ou culto que alguém aparenta prestar é hipócrita. E assim a razão ensina que não há sinceridade na obediência que é rendida sem amor; pois, se não houver amor, nada do que é feito é espontâneo e livre, mas tudo parece ser forçado. Assim, sem amor, não pode haver submissão sincera à vontade de Deus, e não pode haver confiança e entrega real e cordial a ele. Aquele que não ama a Deus jamais confiará nele; jamais vai querer, com verdadeiro anelo da alma, lançar-se nas mãos de Deus, ou nos braços de sua misericórdia.
Assim, por mais que haja nos homens um bom relacionamento com seus semelhantes, contudo a razão ensina que o mesmo é totalmente inaceitável e fútil, se ao mesmo tempo não houver respeito real no coração para com esses semelhantes, se a conduta externa não for inspirada pelo amor íntimo. E destas duas coisas tomadas juntas, a saber, que o amor é de tal natureza que produzirá todas as virtudes, e ele dispõe ao cumprimento de todos os deveres para com Deus e para com os homens, e que sem ele não pode haver virtude sincera, e nenhum dever cumprido com propriedade, a veracidade da doutrina consiste em que toda verdadeira e distintiva virtude e graça cristãs podem ser sumariadas na caridade.

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Fonte: trecho do livro "A Caridade e Seus Frutos de Jonathan Edwards", lançamento de Junho/2015 da Editora Fiel.

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* CONGREGACIONALISMO, O QUE É ISSO?

Congregacionalismo é a forma de governo de Igreja em a autoridade repousa sobre a independência e a autonomia de cada Igreja local. Este tem sido declarado como o sistema primitivo que representa a forma mais antiga de governo da Igreja. O Congregacionalismo moderno, no entanto, data a partir da Reforma Protestante.

Já em 1550, há indícios de homens e mulheres se reunindo para pregar a Palavra de Deus e administrar os sacramentos como separados da Igreja nacional da Inglaterra (Anglicana).

Quando ficou claro que a rainha Elizabeth I não tinha a intenção de uma reforma radical da Igreja inglesa, o número dessas comunidades separadas aumentou.

Robert Browne, o primeiro teórico do sistema, insistia em que estas «igrejas separadas", deviam ser independente do Estado e ter o direito de governarem-se a si próprias, estabelecendo assim as linhas essenciais do Congregacionalismo como o conhecemos hoje.

Desde o 1580 os Brownistas (como passaram a ser chamados estes dissidentes) aumentaram em número e os contornos do congregacionalismo tornaram-se mais claramente definidos; igrejas foram formadas em Norwich, Londres, Scrooby e Gainsborough.

O movimento foi impulsionado pela perseguição. Alguns destes separatistas migraram para a Holanda (1607) e depois (1620) para os Estados Unidos da América, onde o Congregacionalismo foi influente na formação tanto da religião quanto da política daquele país.

Na Inglaterra os Independentes (como também eram chamados) formaram a espinha dorsal do exército de Oliver Cromwell. Seus teólogos defenderam a sua posição congregacionalista na Assembléia de Westiminster e os seus princípios foram reafirmados na Declaração Savoy de Fé e Ordem, em 1658.

Mesmo sendo autônomas esta independência das igrejas Congregacionais não as coloca em completo isolamento. Elas reconheceram o vínculo de uma fé comum e de uma ordem e formaram Associações locais de apoio mútuo e estreitamento de relações.

A União Congregacional da Escócia foi formado em 1812; a da Inglaterra e País de Gales em 1832.

Estas uniões não tinham qualquer autoridade legislativa, mas serviram para aconselhar as igrejas e exprimir as suas idéias em comum.

Em 1972 a maior parte das Igrejas Congregacionais na Inglaterra e no País de Gales se uniu com a Igreja Presbiteriana da Inglaterra para formar a Igreja Reformada Unida. Muitas igrejas que não concordaram com esta união formam hoje a Federação Congregacional e a Comunhão de Igrejas Evangélicas Independentes.

Nos E.U.A. na maior parte das Igrejas Cristãs Congregacionais, em 1957 ingressou com a Igreja Evangélica Reformada em uma união para formar a Igreja Unida de Cristo. As igrejas que não concordaram com esta união formaram outras associações até hoje existentes, com destaque para a Associação Nacional de Igrejas Cristãs Congregacionais e para a Conferência Cristã Conservadora Congregacional.

Adpt. Joelson Gomes

The Concise Oxford Dictionary of the Christian Church 2000, originalmente publicado por Oxford University Press, 2000.

* OS PRIMEIROS CONGREGACIONALISTAS

A maneira Congregacional de igreja na Inglaterra provavelmente tenha seu nascimento em 1567,[1] num pequeno grupo de cerca de cem irmãos que insatisfeitos com tudo o que estava acontecendo dentro da igreja inglesa, começou a se reunir para adorar secretamente no “Salão Plumbers”, Londres. Eles eram chamados de “a Igreja de Privye”,[2] (ou Igreja Privada) transformando-se esta na primeira das muitas congregações separatistas de protesto na Inglaterra. O ajuntamento foi considerado ilegal pelas autoridades, e em 19 de Junho de 1567, e segundo o proeminente historiador Congregacional Williston Walker, os seus membros foram presos, açoitados em público ou mortos.[3] Este dia é considerado por muitos historiadores como o dia da origem moderna da maneira Congregacional de ser igreja.[4] A congregação do Salão Plumbers foi assim dispersa, mas foi logo reorganizada, e agora com mais clareza de sua finalidade. Os seus membros fizeram um pacto entre si para adoração a Deus de acordo com sua compreensão puritana. Mas, mais uma vez foram descobertos, diversos membros foram novamente presos, e outros junto com seu pastor Richard Fitz foram mortos. Mas, a chama não se apagou e a história da Igreja Congregacional é longa, rica, linda e inspiradora.
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NOTAS

[1] CAIRNS, Earle E. O Cristianismo Através dos Séculos (São Paulo: Vida Nova, 2006) p. 275.

[2] Conforme “The Reformation in England” em <http://www.ucc.org/about-us/short-course/the-reformation-in-england.html> Acesso em 08/07/07.

[3] História da Igreja Cristã, 2a ed. (São Paulo: JUERP/ ASTE, 1980), p. 547. Conforme também <http://www.usgennet.org/usa/topic/colonial/religion/history.html> Acesso 08/12/07.

[4] Conforme <http://chi.gospelcom.net/DAILYF/2002/06/daily-06-19-2002.shtml> Acesso em 08/12/07.

ACESSE TAMBÉM