Cl. 2:11-12: "Nele também vocês foram circuncidados, não com uma circuncisão feita por mãos humanas, mas com a circuncisão feita por cristo, que é o despojar do corpo da carne. Isso aconteceu quando vocês foram sepultados com Ele no batismo, e com ele foram ressuscitados mediante a fé no poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos" (NVI).
Observe-se que aqui o apóstolo cita a circuncisão[1] uma ordenança que era conhecida por todos que liam ou ouviam o Antigo Testamento. Agora vale salientar que o autor não está se referindo a circuncisão em si, o rito material na carne, praticado por todos os judeus desde Abraão (Gn. 17:9-14). Paulo está citando a ordenança metaforicamente, simbolicamente, não é a circuncisão do prepúcio, mas a do coração, uma circuncisão espiritual (a circuncisão de Cristo) (Cf Dt. 10:16; 30:6; Jr. 4:4). William Hendriksen diz que é como se ele dissesse:
"A vossa circuncisão foi (1) Obra do Espírito Santo (“feita não por mãos”); (2) interna, do coração...; (3) o despojar e o lançar fora... da totalidade de vossa natureza pecaminosa (= “o corpo da carne”), no seu aspecto santificante a ser realizado progressivamente. (4) cristã (“a circuncisão de Cristo”, isto é, a circuncisão que é vossa por causa da vossa união vital com Cristo)". [2]
Assim, Paulo está dizendo que os cristãos da cidade de Colossos haviam sido “circuncidados em Cristo”, e isto se deu na regeneração, quando foram unidos a Cristo e tiveram seus pecados perdoados, passando da morte espiritual para a vida. O versículo 12 é uma descrição adicional desta circuncisão espiritual:
Isso aconteceu quando vocês foram sepultados com Ele no batismo, e com ele foram ressuscitados mediante a fé no poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos (Cl. 2:12, NVI, grifo meu).
a) Às vezes se toma as frases “sepultados juntamente com Ele no batismo”, e “ressuscitados” literalmente, e sem prestar atenção ao seu contexto histórico, cultural e literário, interpreta-se as mesmas como se fossem uma mera alusão a forma de se praticar o batismo com água. Mas Philippe Landes observa com propriedade:
Que “o sepultamento juntamente com Ele no batismo” de Cl. 2:12, não deve ser tomado literal e fisicamente, percebe-se pelo fato de S. Paulo se referir ao batismo no versículo precedente (11), como “circuncisão de Cristo não feita por mãos no despir do corpo da carne”. O apóstolo se refere, portanto, a um batismo que não é feito por mãos humanas.[3]
b) Ainda deve se observar que Paulo diz que a ressurreição da qual os colossenses haviam participado, deu-se “mediante a fé no poder (ένεργείας= énergeías) de Deus”, ou seja, ele está explicando que foi o poder de Deus que levou aquelas pessoas a participarem de um certo tipo de ressurreição.
Para o entendimento do linguajar usado por Paulo aqui, e que ressurreição foi essa, deve-se consultar Ef. 1: 19-20 que diz:
...e qual a suprema grandeza do seu poder para com os que cremos, segundo a eficácia (ένέργέιαν = énergeían) da força do seu poder; o qual exerceu (ένήργησεν = énêrgêsen) ele em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos e fazendo-o sentar à sua direita nos lugares celestiais.
Nesta passagem Paulo mostra que a pessoa passa a crer em conseqüência do poder de Deus em operação (ένεργείας = énérgeías).[4] E que este é o mesmo poder, energia que ressuscitou a Cristo dentre os mortos. Este poder foi a causa da ressurreição carnal de Cristo dentre os mortos, e foi a causa da fé dos cristãos de colossos, ou seja, a sua ressurreição espiritual.
Assim o que se vê em Cl. 2:12 é Paulo usando argumento parecido com Ef. 1:19-20.[5] Ele está dizendo que a ressurreição de Cristo foi um tipo, uma figura, um símbolo da ressurreição espiritual dos colossenses. Da mesma forma que no verso 11 ele fala de uma circuncisão espiritual, aqui no verso 12 ele dá o mesmo significado espiritual ao batismo. “Foram sepultados com ele no batismo”, é o batismo na morte de Cristo (Rm. 6:3), a regeneração, o batismo operado pelo Espírito Santo unindo o cristão ao corpo de Cristo. “Foram ressuscitados mediante a fé” é a ressurreição espiritual, a vida espiritual operada por Deus em todos os que recebem a iluminação do Espírito Santo, e a Cristo como Salvador. Assim, Paulo não cita o batismo como a ordenança literal feita com água, mas em todo o seu texto fala de realidades espirituais, coisas estas que não se dão no batismo com água, mas na regeneração quando é implantado um novo princípio de vida espiritual no ser humano morto nos seus pecados (Ef. 2:4-6). Logo, Paulo não está nesta passagem citando ordenanças literais, mas usando estas palavras metaforicamente para representar realidades mais profundas.
Portanto, este texto de Colossenses é análogo a Rm. 6. Paulo na passagem fala da regeneração espiritual, usando a mesma linguagem que usou aos Romanos, e não do batismo com água. Era assim que L. Berkhof entendia estas passagens. Ele observa que estas palavras de Paulo:
... não falam diretamente de nenhum batismo com água, em nenhum sentido, senão de um batismo espiritual representado desta maneira. Representam (Rm. 6; Cl. 2:11-12) a regeneração sob a figura de um ficar sepultado e voltar a ressuscitar. É perfeitamente óbvio, na verdade, que não fazem menção do batismo como emblema da morte e ressurreição de Cristo. Se o batismo estivesse representado aqui por completo como um emblema, seria da morte e ressurreição do crente. E como isto é nada mais que uma maneira figurativa de representar sua regeneração, o batismo se transformaria em figura de uma figura. [6]
Pelo exposto, pode-se notar que todos este texto é simbólico, figura do que acontece na vida espiritual dos que são regenerados pelo poder do Espírito Santo. O texto fala do batismo com o Espírito Santo, confundi-los com a ordenança do batismo com água não é prova para o método de se realizar a cerimônia, e os fazem perder toda sua profundidade.
NOTAS
[1] A circuncisão é o ato de cortar o prepúcio, um excesso de pele que cobre a glande do pênis.
[2] HENDRICKSEN, William. Colossenses e Filemon (São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1993), p. 146 (Grifos dele).
[3] LANDES, Philippe. Estudos Bíblicos Sobre o Batismo; O Modo de Administrá-lo, 2ª ed. (São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1964), p. 31 (Grifos dele parêntesis meus).
[4] Vd. LLOYD-JONES, D. M. O Supremo Propósito de Deus ( São Paulo: PES, 1996), p. 386. A palavra é usada freqüentemente para falar da operação de Deus de um modo milagroso. Veja RIENECKER, Fritz. ROGERS, Cleon. Chave Lingüística do Novo Testamento Grego (São Paulo: Vida Nova, 1995), p. 317.
[5] Para ver a incrível semelhança entre Efésios e Colossenses, consulte-se HENDRIKSEN, William. Efésios (São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1992), pp. 15-41.
[6] Teologia Sistematica, 3a ed. rev. (Grand Rapids: T.E.L.L., 1976), p. 750 (Tradução, parêntesis e grifos meus).
4 comentários:
Gostei muito da apresentação do seu blog, especialmente da mensagem do perfil. Confesso que ri muito, pois pensamos identicamente com relação às "unções" e, de modo geral, à confissão positiva erigida do meio neopentecostal. Esses tais negam a soberania de Deus e a Sua graça soteriológica. Aliás, estou muito cansado disso tudo! Estou seguindo o seu blog a partir de agora. Agradeço por ter me visitado. Volte sempre. Amplexos. Em Cristo.
Olá,
O espaço Jesus Minha Rocha completa 4 anos de existcia e 85.000 visitas e você rfaz parte dessa história.
Vem comemorar comigo e leve seu mimo. Te espero por lá.
Graça e paz!
Edimar Suely
jesusminharocha2.zip.net
Interessante, ao que me parece, somente o congregacionalismo brasileiro não é pedobatista. Por que? Foi a opção de Kalley?
Isaias, creio que parte do entendimento biblico da batismo por Kalley, se como ele escreve nos 28 artigos o batisamo é uma confissao, testemunho de fé, ele não poderia ser praticado nas crianças. Obg pela visita, volte sempre.
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