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quarta-feira, 15 de julho de 2009

O CONGREGACIONALISMO NO CRISTIANISMO PRIMITIVO E A HIERARQUIZAÇÃO DA IGREJA (I)

Primeira Igreja Congregacional de East Providence, Rhod Island

Introdução:


Duas grandes confissões de fé do povo Congregacional dizem o seguinte sobre a Igreja:


I- A igreja católica ou universal, a qual é invisível, consiste de todo o número dos eleitos que têm sido, são ou serão reunidos num só corpo, sob Cristo sua Cabeça; ela é a Esposa, o Corpo, a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas”.


Ef. 1: 10, 22-23; Col. 1: 18.


II-O corpo inteiro daqueles que, espalhados por todo o mundo, professam a fé do evangelho e obediência a Deus através de Cristo de acordo com o mesmo, e que não renegam essa sua profissão por erros fundamentais ou por conduta impura, é a igreja visível, católica de Cristo, e pode ser assim chamado, se bem que como tal não lhe é confiada a administração de ordenanças, nem tem ela oficiais que governem ou dirijam o corpo inteiro.


I Co. 1:2; 12: 12-13; Sl .2: 8; I Co. 7: 14; At. 2:39; Gn. 17: 7; Rm. 9: 16; Mt. 13: 3; Cl. 1: 13; Ef. 2:19; 3:15; Mt. 10:32-33; At. 2:47.


(Declaração de Savoy de Fé e Ordem, XXVI, 1-2)


Art. 19º - Da União do Corpo de Cristo

A Igreja de Cristo no céu e na terra é uma (1) só e compõe-se de todos os sinceros crentes no Redentor (2), os quais foram escolhidos por Deus, antes de haver mundo (3), para serem chamados e convertidos nesta vida e glorificados durante a eternidade (4)”.

(1) Ef. 3:15; (2) I Co. 12:13; (3) Ef. 1:11; (4) Rm. 8: 29,30.


(Os 28 Artigos da Breve Exposição das Doutrinas Fundamentais do Cristianismo)


É comum usarmos a palavra “igreja” para designar uma casa onde pessoas se reúnem para prestar culto cristão. A palavra é popular sendo vista em muitos lugares, mas mesmo assim, muitos de nós não conhecemos a definição da mesma. Assim, não poucas vezes há confusão com respeito ao seu significado. Está curioso para saber o que é a Igreja? Então mãos à obra, vamos conhecer este assunto mais de perto nesta lição.


I- O QUE É A IGREJA?


1.a- O Antigo Testamento. Como você bem sabe a Bíblia tem duas partes principais: o Antigo e o Novo Testamento. Vamos olhar como estas duas partes falam sobre o povo de Deus.

No Antigo Testamento encontra-se a palavra hebraica QAHAL para designar a reunião, a assembléia do povo de Israel. Esta palavra significa reunião de um grupo especialmente com propósito religioso[1], mas esta reunião podia ser também para tratar de assuntos jurídicos e políticos.

1.b- Quando chegamos ao Novo Testamento encontramos a palavra grega έκκλησία (ekklesia) que é traduzida por igreja. Esta é uma palavra composta de έκ (ek = de, para fora), e καλέω (kaleô = chamar), ficando então: chamar de, chamar para fora.[2] Sobre esta palavra escreve Dewey M. Mulholland:


A etimologia de ekklesia contribui para conhecermos o significado da palavra igreja. É composta de ek (para fora) e kaleô (chamar, convocar). Como Deus chamou seu antigo povo para fora do Egito e o conduziu para a Terra Prometida, ele chama pessoas para “fora do mundo” (“não se amoldem ao padrão deste mundo”, Rm. 12:2) para caminhar para “o alvo, a fim de ganhar o prêmio da chamada celestial de Deus em Cristo Jesus” (Fp. 3:14).[3]


1.c-Na época do Novo Testamento esta palavra era normalmente usada para designar uma reunião por qualquer motivo (cf. At. 19: 32). Quando havia gente reunida ali havia uma ekklesia. Os cristãos começaram a aplicar esta palavra também para suas reuniões, e assim as reuniões dos crentes passaram a se chamar “ekklesia/igreja”. Observe alguns aspectos do uso desta palavra pelos escritores do Novo Testamento:


a) Ekklesia pode ser os crentes reunidos em uma casa (Rm. 16:5; 1 Co. 16:19);


b) Ekklesia pode ser os crentes reunidos de uma determinada localidade, ou cidade (Mt. 18:15-17; At. 11:26; 1Co. 16:1-2; 2 Co. 8:1). A palavra aqui está significando os cristãos reunidos em um determinado local. Esta ekklesia está situada numa cidade, tem seu rol de membros definido, e nem todos que fazem parte da mesma são cristãos de verdade. É uma igreja local.


c) Ekklesia poder ser os crentes reunidos de uma determinada região (At. 9: 31; 1 Co. 15:9). Observe que aqui a palavra engloba todos os cristãos das regiões citadas.


d) Ekklesia pode ser os cristãos verdadeiros de todas as épocas, todo povo verdadeiro de Deus, sem distinção (Ef. 1: 22-23; 5:25-26; Cl. 1:18-24). Aqui a palavra significa a comunhão de todos os cristãos da terra, de todos os tempos e lugares, os que já estão com Cristo (Hb. 12:23); que ainda estão na terra, e os que ainda serão salvos. A ekklesia aqui é um corpo espiritual universal, não uma organização terrena. Foi esta eklesia/ igreja que Jesus veio edificar (Mt. 16: 16-18).


1.d- Portanto, apalavra eklesia (igreja) é usada no Novo Testamento, tanto para significar todos os cristão verdadeiros de todos os tempos, como para significar grupos de irmãos reunidos em um lugar, ou numa casa de família (1 Co. 16:19; Fm. 2). Isto nos mostra que não é a hierarquia clerical, o ministério ordenado, o número de membros, ou o lugar da reunião que determina o emprego da palavra igreja, o que conta é se a reunião é feita em nome de Jesus Cristo (Mt. 18:20). Esta é a condição para ser uma ekklesia, assembléia, igreja cristã com a presença de Cristo.


Isso estabelece a norma de uma vez por todas: o significado original de ekklesia “igreja”, não era uma hiperorganização de funcionários espirituais, desligada da assembléia concreta (um clero). Denota uma comunidade reunindo-se num local especifico, a uma hora especifica, para uma ação especifica- uma igreja local, embora formasse com as outras igrejas locais uma comunidade abrangente, a igreja inteira. Assim, cada igreja local torna a igreja inteira plenamente presente; de fato, pode ser entendida- na linguagem do Novo Testamento- como povo de Deus, corpo de Deus e edifício do Espírito.[4]


Onde houverem irmãos reunidos em nome de Cristo, não importando o número, ali estará uma ekklesia (igreja). É esse o entendimento dos cristãos do Novo Testamento sobre o fato.


Os cristãos primitivos não concebiam a igreja como um lugar de culto como se faz hoje. Igreja significava um corpo de pessoas numa relação pessoas com Cristo. Esse grupo se reunia em casas (At. 12: 12; Rm 16: 5 23; Cl. 4:15; Fm 1-4), no templo (de Jerusalém) (At. 5:12), nos auditórios públicos de escolas (At. 19: 9). E nas sinagogas enquanto lhes permitiam fazer isso (At. 14: 1,3; 17: 1; 18: 4). O lugar não era tão importante como o modo de se encontrarem para ter comunhão uns com os outros e cultuar a Deus.[5]



II- ONDE COMEÇOU A IGREJA?


Bem, partindo do pressuposto, depois do estudo desta primeira parte, que você já sabe o que é a igreja, resta saber onde ela começou. Você sabe?


A origem da Igreja.


Quem lê com atenção os três primeiros capítulos da Carta de Paulo aos Efésios acha com facilidade a reposta. Ali está exposto que a igreja se originou na mente de Deus muito antes da fundação do mundo (Ef. 1:3-6), e foi revelada na história a partir das boas-novas de Jesus Cristo (Ef. 1:22-13; 2; 3:1-13). Preste atenção no seguinte:


ii.a- No Antigo Testamento um povo servia a Deus e este povo estava majoritariamente entre os judeus. Eles eram a comunidade de Deus (Ex. 19:5; Dt. 7:6; 14:2; 26:18; Sl. 135:4; Ml. 3:17). Deve ficar claro que nem toda nação judaica era reta diante de Deus, mas Deus tinha no meio daquele povo um remanescente fiel. O culto do Antigo Testamento era um culto centralizado:


a) Racialmente nos judeus;


b) Geograficamente em Jerusalém e seu templo; e


c) Clericalmente nos sacerdotes, eles que eram os mediadores entre Deus e o povo fazendo o serviço sagrado (Hb. 9:1-10). Era esta a Antiga Aliança.


ii-b- O Novo Testamento traz Cristo e com Ele muitas mudanças. O povo de Deus nesta época da graça com a vinda do Salvador é parte de uma Nova Aliança (Jr. 31: 31-33; Lc. 22:20; Hb. 8). Agora a Aliança:


a) Não é mais centralizada numa nação, mas é feita com qualquer um que tenha fé em Cristo (Ef. 2-3; Ap. 5: 9-10);


b) não é mais centralizada num lugar, mas em qualquer lugar onde Cristo esteja e haja adoração verdadeira (Jo. 4: 20-24; Mt. 18:20)., e


c) não é mais centralizada num grupo de sacerdotes, num clero, mas todos os cristãos são feitos sacerdotes e podem ir a Deus por Jesus Cristo (Hb. 10: 19-23; Mt. 27: 45-51).


De acordo com Paulo em Ef. 3:4-6, um grande mistério foi revelado a ele, que agora, na época da graça que Jesus inaugurou (Jo. 1:17), não só os judeus como no Antigo Testamento, mas também os gentios (os não-judeus) poderiam fazer parte da mesma comunidade, o mesmo corpo, a igreja de Deus. Foi esta comunidade que Jesus veio edificar (Ef. 3:8-12; Tt. 2:14).


ii.c- Antes de sua morte Cristo prometeu o Espírito Santo aos seus discípulos (Lc. 24: 49; Jo. 14: 15-17), pois já no Antigo Testamento Deus através do profeta Joel havia feito esta promessa (Jl. 2: 28-32). Então no dia da Festa de Pentecoste esta promessa foi cumprida, o Espírito Santo desceu sobre os irmãos reunidos em Jerusalém (At. 1: 12-14; 2: 1-4), batizando-os e formando naquela cidade a primeira igreja Cristã do Novo Testamento. Hans Küng escreve:


Entretanto, indiscutivelmente não foi Roma, mas sim Jerusalém a comunidade principal e a matriz do primeiro cristianismo. E a história da primeira comunidade não foi uma história de romanos e gregos, mas sim uma história de judeus naturais, falassem eles aramaico ou, como era o caso muitas vezes na cultura helenística (grega) da Palestina, grego. Estes judeus que seguiram Jesus legaram à igreja que estava sendo criada a língua, as idéias e a teologia judaicas, e assim deixaram uma marca indelével em todo o cristianismo.[6]


ii.d- Logo esta igreja começou a crescer, devido ao fervor missionário de seus membros e todos os que eram convertidos ficavam juntos como uma grande família (At. 2: 41-47; 4:23, 34; 5:12-14, 42). Era uma igreja formada primeiramente e essencialmente de judeus, mas com a pregação em Antioquia, esta que era a capital da província romana da Síria,[7] muitos não-judeus (gentios) aceitaram a Cristo, e temos formada ali a segunda igreja cristã do Novo Testamento (At. 11: 19-26). Valendo notar que também foi em Antioquia que os irmãos forma pela primeira vez foram chamados de “cristãos” (povo de Cristo) (At. 11:26).


NOTAS

[1] Veja FERREIRA, Franklin/ MYATT, Allan. Teologia Sistemática (São Paulo: Vida Nova, 2007), p. 946. BRUCE, F. F. (Ed) Comentário Bíblico NVI (São Paulo: Vida, 2009), p. 1578.

[2] RUSCONI, Carlo. Dicionário do Grego do Novo Testamento (São Paulo: Paulus, 2003), p. 156.

[3] Teologia da Igreja (São Paulo: Shedd Publicações, 204), p. 24.

[4] KÜNG, Hans. Igreja Católica (São Paulo: Objetiva, 2002), p. 30.

[5] CAIRNS, Earle E. O Cristianismo Através dos Séculos, 2ª Ed. (São Paulo: Vida Nova, 2008), p. 70.

[6] Op. Cit., p. 37.

[7] Manual Bíblico SBB (Barueri: Sociedade bíblica do Brasil, 2008), p. 651.

Um comentário:

Anônimo disse...

Este teu blog é bom pra ESTUDAR! rsrsrs...

* CONGREGACIONALISMO, O QUE É ISSO?

Congregacionalismo é a forma de governo de Igreja em a autoridade repousa sobre a independência e a autonomia de cada Igreja local. Este tem sido declarado como o sistema primitivo que representa a forma mais antiga de governo da Igreja. O Congregacionalismo moderno, no entanto, data a partir da Reforma Protestante.

Já em 1550, há indícios de homens e mulheres se reunindo para pregar a Palavra de Deus e administrar os sacramentos como separados da Igreja nacional da Inglaterra (Anglicana).

Quando ficou claro que a rainha Elizabeth I não tinha a intenção de uma reforma radical da Igreja inglesa, o número dessas comunidades separadas aumentou.

Robert Browne, o primeiro teórico do sistema, insistia em que estas «igrejas separadas", deviam ser independente do Estado e ter o direito de governarem-se a si próprias, estabelecendo assim as linhas essenciais do Congregacionalismo como o conhecemos hoje.

Desde o 1580 os Brownistas (como passaram a ser chamados estes dissidentes) aumentaram em número e os contornos do congregacionalismo tornaram-se mais claramente definidos; igrejas foram formadas em Norwich, Londres, Scrooby e Gainsborough.

O movimento foi impulsionado pela perseguição. Alguns destes separatistas migraram para a Holanda (1607) e depois (1620) para os Estados Unidos da América, onde o Congregacionalismo foi influente na formação tanto da religião quanto da política daquele país.

Na Inglaterra os Independentes (como também eram chamados) formaram a espinha dorsal do exército de Oliver Cromwell. Seus teólogos defenderam a sua posição congregacionalista na Assembléia de Westiminster e os seus princípios foram reafirmados na Declaração Savoy de Fé e Ordem, em 1658.

Mesmo sendo autônomas esta independência das igrejas Congregacionais não as coloca em completo isolamento. Elas reconheceram o vínculo de uma fé comum e de uma ordem e formaram Associações locais de apoio mútuo e estreitamento de relações.

A União Congregacional da Escócia foi formado em 1812; a da Inglaterra e País de Gales em 1832.

Estas uniões não tinham qualquer autoridade legislativa, mas serviram para aconselhar as igrejas e exprimir as suas idéias em comum.

Em 1972 a maior parte das Igrejas Congregacionais na Inglaterra e no País de Gales se uniu com a Igreja Presbiteriana da Inglaterra para formar a Igreja Reformada Unida. Muitas igrejas que não concordaram com esta união formam hoje a Federação Congregacional e a Comunhão de Igrejas Evangélicas Independentes.

Nos E.U.A. na maior parte das Igrejas Cristãs Congregacionais, em 1957 ingressou com a Igreja Evangélica Reformada em uma união para formar a Igreja Unida de Cristo. As igrejas que não concordaram com esta união formaram outras associações até hoje existentes, com destaque para a Associação Nacional de Igrejas Cristãs Congregacionais e para a Conferência Cristã Conservadora Congregacional.

Adpt. Joelson Gomes

The Concise Oxford Dictionary of the Christian Church 2000, originalmente publicado por Oxford University Press, 2000.

* OS PRIMEIROS CONGREGACIONALISTAS

A maneira Congregacional de igreja na Inglaterra provavelmente tenha seu nascimento em 1567,[1] num pequeno grupo de cerca de cem irmãos que insatisfeitos com tudo o que estava acontecendo dentro da igreja inglesa, começou a se reunir para adorar secretamente no “Salão Plumbers”, Londres. Eles eram chamados de “a Igreja de Privye”,[2] (ou Igreja Privada) transformando-se esta na primeira das muitas congregações separatistas de protesto na Inglaterra. O ajuntamento foi considerado ilegal pelas autoridades, e em 19 de Junho de 1567, e segundo o proeminente historiador Congregacional Williston Walker, os seus membros foram presos, açoitados em público ou mortos.[3] Este dia é considerado por muitos historiadores como o dia da origem moderna da maneira Congregacional de ser igreja.[4] A congregação do Salão Plumbers foi assim dispersa, mas foi logo reorganizada, e agora com mais clareza de sua finalidade. Os seus membros fizeram um pacto entre si para adoração a Deus de acordo com sua compreensão puritana. Mas, mais uma vez foram descobertos, diversos membros foram novamente presos, e outros junto com seu pastor Richard Fitz foram mortos. Mas, a chama não se apagou e a história da Igreja Congregacional é longa, rica, linda e inspiradora.
___________________


NOTAS

[1] CAIRNS, Earle E. O Cristianismo Através dos Séculos (São Paulo: Vida Nova, 2006) p. 275.

[2] Conforme “The Reformation in England” em <http://www.ucc.org/about-us/short-course/the-reformation-in-england.html> Acesso em 08/07/07.

[3] História da Igreja Cristã, 2a ed. (São Paulo: JUERP/ ASTE, 1980), p. 547. Conforme também <http://www.usgennet.org/usa/topic/colonial/religion/history.html> Acesso 08/12/07.

[4] Conforme <http://chi.gospelcom.net/DAILYF/2002/06/daily-06-19-2002.shtml> Acesso em 08/12/07.

ACESSE TAMBÉM